O presidente da França, Emmanuel Macron, voltou a se posicionar de forma clara contra a exploração de petróleo na Amazônia brasileira. Durante a Conferência da ONU sobre os Oceanos, realizada em Nice, Macron reforçou a necessidade de o Brasil adotar políticas ambientais mais sustentáveis e sugeriu que o presidente Lula reconsidere os planos de autorizar a perfuração de poços na foz do rio Amazonas. O apelo ocorre em um momento crítico, às vésperas de um megaleilão de blocos de petróleo promovido pela Agência Nacional do Petróleo, que pode abrir caminho para uma nova frente de exploração na região.
O debate sobre petróleo na Amazônia ganha mais intensidade diante da pressão internacional por ações concretas contra as mudanças climáticas. Emmanuel Macron, ao lado de lideranças indígenas como o cacique Raoni e seu neto Tau Metuktire, destacou que o mundo precisa abandonar progressivamente os combustíveis fósseis e buscar fontes de energia menos poluentes. Ao comentar o projeto brasileiro, Macron ressaltou que o exemplo deve partir das nações desenvolvidas, mas defendeu que países como o Brasil também evitem repetir modelos ultrapassados baseados na queima de petróleo.
O petróleo na Amazônia é hoje um dos temas mais polêmicos da agenda ambiental brasileira. Grupos indígenas, ambientalistas e pesquisadores vêm alertando para os riscos da exploração na foz do Amazonas, uma região considerada sensível do ponto de vista ecológico. Os blocos oferecidos pela ANP estão localizados em áreas que podem comprometer a biodiversidade marinha e os modos de vida tradicionais de comunidades ribeirinhas. Macron utilizou seu espaço em um programa de televisão francês para pedir publicamente que Lula reveja o projeto e opte por caminhos que respeitem o meio ambiente.
Durante sua fala, Macron citou a decisão da França de adotar uma moratória sobre novos projetos de petróleo, inclusive na Guiana Francesa, que também abriga parte da floresta amazônica. Segundo o presidente francês, essa política busca reduzir a dependência de hidrocarbonetos e fomentar investimentos em energias limpas. Ao sugerir que o Brasil tome medida semelhante, ele frisou que não pretende dar lições ao Sul Global, mas sim incentivar o diálogo entre os países para encontrar soluções comuns que beneficiem o planeta como um todo.
O projeto de petróleo na Amazônia entra agora em uma fase decisiva, já que o leilão dos blocos deve ocorrer nos próximos dias. O governo brasileiro, por meio do presidente Lula, ainda não confirmou se levará adiante a licitação diante da pressão internacional e dos alertas de lideranças indígenas. O cacique Raoni enviou uma mensagem de vídeo a Macron pedindo que ele use sua influência para frear o avanço do petróleo na Amazônia. O apelo emocionou o presidente francês, que garantiu que continuará dialogando com Lula, especialmente na próxima COP, marcada para ocorrer em Belém, no Pará.
A exploração de petróleo na Amazônia levanta preocupações não apenas ambientais, mas também sociais e econômicas. O avanço de grandes empreendimentos petrolíferos pode gerar impactos irreversíveis em comunidades tradicionais, além de comprometer os esforços do Brasil para cumprir suas metas climáticas internacionais. Macron alertou que, embora países desenvolvidos tenham crescido com base na queima de petróleo, essa lógica não é mais sustentável e não deve ser replicada por nações emergentes. A proposta é que o Brasil invista em alternativas como energia solar, eólica e projetos de bioeconomia.
A conexão entre rios e oceanos também foi destacada pelo cacique Tau Metuktire, que participou da conferência ao lado de Macron. Segundo ele, preservar os mares exige atenção com os rios e florestas. O petróleo na Amazônia, se extraído sem planejamento, poderá comprometer o ciclo das águas e poluir regiões inteiras com resíduos químicos. A degradação da floresta e o uso indiscriminado de agrotóxicos já têm causado doenças e mortes prematuras entre os povos indígenas, como apontado por Metuktire em seu depoimento à Rádio França Internacional.
O futuro do petróleo na Amazônia depende agora de decisões políticas. A fala de Macron eleva o tom do debate e pode pressionar o governo brasileiro a rever seus planos. Ao sugerir que Lula abandone o projeto, o líder francês se junta a um coro internacional que inclui cientistas, ambientalistas e líderes tradicionais preocupados com o futuro do planeta. O petróleo na Amazônia não é apenas uma questão energética, mas um símbolo de escolha entre modelos de desenvolvimento: um baseado na exploração predatória e outro centrado na sustentabilidade e no respeito à vida.
Autor: Trimmor Waterwish